Robert Pattinson é o Batman. Sua escolha foi um dos assuntos mais comentados há dois anos atrás quando anunciada, causando mal-estar no mundo nerd cheio de preconceitos enrustidos. Ao passo disso, Zoe Kravitz como Mulher Gato e Jeffrey Wright como Gordon incomodaram tanto quanto por trazer atores negros para esses papeis até então interpretados por brancos, mostrando mais uma vez a fragilidade do mundo nerd. Definitivamente não absorvem o que leem.
Outro passo de fragilidade, diferente desses que são herdados de tempos sombrios, está sendo criado agora nesse momento. The Batman dirigido por Matt Reeves tem defeitos, mas quase nenhum deles é citado pela crítica e por uma parcela do público ao dizer que não curtiram a experiência. E isso é um claro reflexo de uma marvetização criticada por Scorcese algum tempo atrás e que assola dentro e fora do gênero. Essa pasteurização — condensação desejada — tomou um novo rumo após Homem Aranha Sem Volta Para Casa. O público e a crítica querem aquele show de emoção — não técnica — para sairem satisfeitos das salas.
Não entrega nada de novo ou faltou algo a mais que não sei explicar são os bordões presentes para justificar esse afastamento de The Batman. Nessa hora questiono: como não há algo novo? Quando você viu esse Batman detetive nos cinemas? Esse Pinguim mafioso, carismático e realista? Alfred fazendo parte da história mais que observador? E, principalmente, a moral da família Wayne ser questionada assim? Isso definitivamente é inédito nos cinemas. O que o público espera é aquele banho de endorfina causado por momentos eufóricos de fan service massivamente saturados. Nessas horas falo: calma, você terá Batman’s interagindo no multiverso em The Flash, segura a bola. Por um momento eles parecem se acalmar.
The Batman tem um problema com pontas soltas e um roteiro que não é tão inteligente quanto acha que é; um filme que poderia ser um pouco mais bem decupado, custando uns 20/30 minutos a mais desnecessariamente; um Coringa muito mal apresentando com um diálogo digno de ser esquecido e outros detalhes. Mas nada disso justifica o desapego. A obra do diretor de Planeta dos Macacos é marcante, lapidada e apesar das críticas que o Batman não sorri ou é muito sério de alguns, apresenta um Morcego carismático e marcante. E, diferente da trilogia do Nolan, tem personagens secundários muito bem desenvolvidos. Aqui, as coisas giram ao redor de Gotham e todos seguem a dança.
A proposta de trazer camadas a serem resolvidas leva você junto a aventura e questiona-se rapidamente quem são os verdadeiros vilões de Gotham. Esse sentimento de extrema corrupção não apodrece seu coração com niilismo durante as quase três horas de filme, pois Gordon e Mulher Gato são parceiros reais do Batman e não apenas figurantes no enredo. A assinatura presente é realmente instigante. Não é só a cena do Batmóvel que é memorável, todas as cenas de porradaria e loucura frenética trazidas por um Batman Ano Dois são dignas de um espaço em sua memória — alugar um triplex na sua mente.
O visual é trevoso, noir e sujo. Isso é Gotham! mais que um retrato de metrópole estadunidense, Gotham desde sempre nos quadrinhos tem quase que um encosto que reflete no seu visual. Ela não é como qualquer outra grande cidade tomada pelas entranhas do capitalismo e Matt Reeves sabe disso. Sabe tanto quanto o Batman jovem: enérgico por mudança e com muitos sentimentos de Robert. É brilhante (perdão pelo trocadilho) como existe uma distinção clara do mascarado e do bilionário. O jeito como a máscara encaixa, mostra os olhos, feições e emoções é diferente de quando ela não está lá. A imaturidade é bem-vinda para entendermos, juntamente, qual é esse carinho que Bruce carrega por Gotham. À essa hora é claro, como um feixe de luz, que o Batman ali naquela história é a direção para fora da caverna das sombras.
The Batman era o que queríamos e precisávamos. Menos um filme de ação tosco, com visual manjado, roteiro padrão e atuações sem envolvência para nós fãs de boas histórias. Chega para gente um projeto maduro que apesar de não forçar aparições que causam gritos e esperneios nas salas, é de longe uma das obras de origem, por assim dizer, mais completas até então. Completa ao introduzir, desenvolver e convidar o público a entender e participar.
Quem leu, viu. Diante da tela, estava o Batman que crescemos e acompanhamos. Seja o ano que for, a história tem suas características. Ao compor um mesmo formato a diferentes heróis, estamos criando uma grande massa sem objetivo crítico ou muito menos de entretenimento além do barato. E Batman é sobre a descoberta própria e única de um herói em sua cidade de vigilância. Temos uma origem diferente que mesmo sem mostrar, aborda Thomas e Martha de um jeito criativo e instigante. Se ver na pele de Bruce é só mais uma consequência assim como entendê-lo. Os diálogos expositivos e as charadas envolvidas no roteiro de forma problemático quebram isso a certo ponto, mas Reeves impõe novamente ao tornar palpável aquele mundo com um vilão sem o ar maquiavélico desestimulante e intenções tão reais que podem ser vistas na internet de hoje ao abrir o Twitter.
Apesar dessa onda causada pelos sucessos da Marvel, The Batman está com 85% de aprovação no Rotten, pronto para ter uma alta bilheteria e com derivados e sequências em desenvolvimento. Definitivamente, seu impacto poderia ser melhor, porém devemos agora observar o que realmente esperamos de uma boa experiência e quanto ela faz sentido de verdade. Desde a fotografia marcante, com uso de lentes com desfoques belíssimos e painéis de led para dar mais realismo, até a engenharia de som que traz imersão, aqui há um diagramação profunda buscando sintetizar o verdadeiro Cavaleiro das Trevas, e trazer até então a obra definitiva, o The Batman.
