Os antigos filmes da franquia Transformers deixaram um gosto amargo no público por entregar histórias explosivas e sem o menor tato da direção e do roteiro. Mas foi quando esse universo esteve mais desacreditado por tudo e todos que Bumblebee chegou com o coração no lugar certo para mostrar que ainda existia luz no fim do túnel — e você pode ler a crítica do filme de 2018 clicando aqui.
E atentos às críticas, a Paramount viu a oportunidade de ignorar os desastres do passado para dar um reinício digno ao universo dos Autobots. E foi a partir dessa percepção que Transformers: O Despertar das Feras nasceu e chegou às telonas. Mas será que a franquia conseguiu manter a qualidade do seu antecessor ou repetiu os gravíssimos erros do passado?
Um dos méritos que trouxe na minha crítica a Bumblebee foi quanto a leveza presente na narrativa, na relação entre a dupla protagonista e na rápida e carismática participação dos Autobots que despertaram minha curiosidade em ver mais daqueles personagens nas mãos de um bom roteirista como foi no caso de Christina Hodson no filme de 2018. A história de O Despertar das Feras decide ir mais a fundo na mitologia desse universo, mas existem acertos e erros durante a narrativa.
Elementos importantes para o desenrolar da trama apresentam descuidos da equipe de cinco roteiristas por serem desenvolvidos de forma superficial.
Além disso, diferente do que foi visto e elogiado em 2018, a oportunidade para conhecermos um pouco mais dos Autobots e até mesmo dos novíssimos Maximals foi perdida nesse começo, pois o filme entrega apenas identidades rasas para os personagens e até mesmo deixam outros de lado para usá-los apenas nos momentos de ação no terceiro ato.
Mas apesar dos deslizes do time de roteiristas, o longa acerta ao deixar seus objetivos claros do início ao fim da narrativa, o que muitas vezes pode te fazer ignorar os elementos rasos da história.
E até a participação humana aqui se mantém assertiva em diversos momentos, assim como foi em Bumblebee, pois se os filmes de Michael Bay tinham seus terráqueos apenas como chaveirinhos dos robôs gigantes, os novos filmes trazem utilidade para eles.
Bumblebee tinha a personagem de Hailee Steinfeld como um elo emocional entre o protagonista e a Terra, o que fazia sentido para a história. Já em O Despertar das Feras, ao mesmo tempo em que equilibram o humor e o drama muito bem estabelecidos e simpatizam com o lado emocional dos robôs gigantes, os personagens de Dominic Fishback e Anthony Ramos também são úteis para o desenrolar da trama, mesmo que para os momentos mais absurdos dela — como a decifração de enigmas ou até mesmo a entrada na ação, que precisou da rebolada master dos roteiristas.
A direção de Steven Caple Jr. traz uma suavidade similar a que foi vista por Travis Knight no filme de 2018, porém, Caple Jr. teve a oportunidade de expandir ainda mais nas cenas de ação, e sua participação junto a equipe de efeitos visuais trouxe uma condução ainda mais dinâmica aos momentos porradaria ininterruptas que nos filmes anteriores eram confusas e machucavam a vista pelo excesso de explosões e por ignorar a beleza nas transformações dos personagens em meio a ação.
É gratificante ver um diretor que aprecia tanto um projeto saber conduzir momentos como esse, que ficam ainda mais interessantes quando agregados a colocação da trilha sonora que nunca foi o forte da franquia, mas aqui consegue ter boas adições.
Mesmo com descuidos na narrativa que dão gatilhos ao passado, Transformers: O Despertar das Feras entrega um divertido reboot para os Autobots nos cinemas ao dar novos passos nos acertos que teve em 2018. E com a ideia de ser o início de uma nova trilogia e de expandir sua marca com outras franquias da Hasbro, espera-se que a Paramount finalmente direcione seus projetos para algo mais coerente e agradável para o público com tudo que eles estão colhendo agora.