Ao longo das décadas, poucos fenômenos culturais foram capazes de transcender gerações com tanta maestria quanto as Tartarugas Ninja.

Os quatro irmãos tornaram-se ícones incontestáveis da cultura pop, e a importância desses heróis vai muito além das artes marciais e das lutas contra vilões caricatos, pois seus valores apresentam narrativas que ressoam com jovens e adultos, tornando-se uma fonte inesgotável de inspiração e entretenimento ao longo das gerações. E esses legados e valores fazem parte da fórmula do novo filme animado dos personagens.

Em As Tartarugas Ninja: Caos Mutante, acompanhamos uma nova versão dos heróis que traz referências clássicas de suas antigas versões, mas que também abre muito espaço para muita liberdade criativa dentro da mitologia dos personagens e também no estilo de animação — que é um dos pontos altos do longa.

Depois do sucesso de Homem-Aranha no Aranhaverso, diversos estúdios correram atrás de desenvolver novos estilos para o gênero de animação, e aqui não seria diferente.

Acredito que as melhores histórias das Tartarugas Ninja estão na animação, e o estilo escolhido para Caos Mutante casa perfeitamente com essa história.

Desde os detalhes de cenário até o visual dos personagens, todo departamento de animação fez um excelente trabalho ao traduzir toda essência dos personagens para as telonas, mostrando que essa é uma história realmente que quer levar o potencial desses incríveis personagens a um novo patamar.

Além disso, o roteiro do filme também traz elementos magníficos para sua história.

O Caos Mutante que o filme nos apresenta vai além do show de personagens apresentados nas telas. Ele também representa a percepção que o mundo humano tem com a aparição desses personagens e também da vontade dos protagonistas em manifestar suas vontades em um lugar que eles tanto admiram.

Apesar de um longa infanto juvenil, o filme trabalha suas temáticas mais sérias sem transformá-las em bobagens, conseguindo contar uma incrível jornada de amadurecimento e aceitação.

Existem momentos no terceiro ato em que certas ações passam a ser bastante repetitivas e são rapidamente solucionadas, o que acaba tendo um impacto raso dentro de toda excelência já apresentada anteriormente, mas ainda assim não deixa de passar uma boa mensagem.

 

A química de Leonardo, Rafael, Donatello e Michelangelo é perfeita, onde é possível reconhecer cada um deles mesmo sem as máscaras e sem uma fala dita. Em anos de tentativas de levar os personagens para as telonas, acredito que essa é a primeira vez que finalmente temos a personificação perfeita desses personagens.

A participação de April O’niel e do Mestre Splinter no longa também merecem um excelente destaque.

A jovem humana amiga das tartarugas por muito tempo serviu como os olhos do público para esse universo, e aqui ela também cumpre parte desse papel, mas também serve para nos apresentar e descobrir os entornos do universo junto com os quatro irmãos.

Já Splinter representa a boa e velha figura paterna dos personagens. Ele tem argumentos válidos para reconhecer como o mundo humano é cruel e que seus filhos precisam ser protegidos, mas ele também representa a paternidade super protetora que teme por seus filhos e que precisa aprender a deixá-los viver.

Quanto aos antagonistas, existem duas percepções sobre suas participações. A presença humana de Cynthia Utrom e sua empresa mostram toda maldade humana que Splinter sempre alertou para seus filhos, mostrando como o medo pelo desconhecido muitas vezes leva a destruição e a exploração das minorias.

Já o Supermosca e seu clã representam o extremismo da rejeição mutante nesse mundo e também da forma caótica que esse grupo rejeitado pretende reagir da forma mais inescrupulosa possível, acreditando que está fazendo a coisa certa quando na verdade está se igualando (ou ficando pior) que os próprios humanos.

Os irmãos ninja são o elemento chave que (literalmente) lutam para mostrar o erro na visão do grande antagonista e que se esforçam para proteger aqueles que o temem sem ao menos saber da resposta, e essa atitude no roteiro é o que traz a maestria para esses personagens.

As Tartarugas Ninja: Caos Mutante é uma excelente história que agrada as gerações anteriores e abre portas para novos fãs conhecerem um universo de personagens incríveis. Sua escolha estética e seu roteiro trazem brilho para os personagens que saem das sombras para buscar aceitação.

É gratificante ver personagens tão incríveis ganhando a devida notoriedade nas telas e num estilo que melhor os representa. Espero vê-los cada vez mais brilhando com suas incríveis aventuras.