Temos um novo filme do Wes Anderson, e isso indica claramente seu estilo característico: uma rica gama de cores vibrantes, muitos tons pastéis e uma abundância de movimentos panorâmicos de câmera; ele também adora criar diálogos intercalados, alternando entre personagens e histórias dentro de outras histórias, desenvolvendo mais e mais camadas narrativas; e claro, não podemos esquecer dos personagens excêntricos que frequentemente quebram a quarta parede, segmentos de animação stop motion e composições simétricas notáveis. Esse é o paragrafo de introdução da filmografia inteira de Anderson, cabe você agora decidir se segue ou não. É com você.

Então vamos lá, o filme se passa nos anos 50, em uma cidade isolada no deserto dos Estados Unidos, onde uma convenção é interrompida por eventos extraordinários. Comparado ao filme anterior de Anderson, A Crônica Francesa, que é criticado por sua complexidade e falta de uma trama sólida, Asteroid City funciona melhor. Anderson tem seu estilo distintivo, que às vezes resulta em filmes excelentes, como O Grande Hotel Budapeste, Ilha dos Cachorros e Os Excêntricos Tenenbaums. A obra mantém o estilo característico de Wes Anderson, que é marcado por um distanciamento emocional entre os personagens.

A obra explora várias camadas de significado, o que pode dificultar a conexão emocional do público com alguns personagens. O elenco de Hollywood é extenso, mas o filme lida com isso de forma consciente, dividindo os personagens em categorias distintas: cameos de celebridades, personagens secundários e personagens centrais à trama. Isso ajuda a equilibrar a quantidade de personagens sem prejudicar o desenvolvimento da história. A trama não é particularmente cativante ou genial, mas isso não parece ser o foco do filme. Em vez disso, a experiência única oferecida por seus elementos estilísticos é mais significativa do que a história em si. O X da questão pode ser a narrativa, que é fragmentada, incorporando elementos teatrais dentro do filme, o que pode afastar  parte do público que espera uma história mais direta e acessível, mas ao mesmo tempo desafia as expectativas.

Isso pode ser reflexo da abordagem meticulosa e abrangente de Anderson ao explorar questões existenciais e estéticas.  Asteroid City, em suas vastas interpretações, indo até além da semiótica, cobre uma ampla gama de temas, incluindo a história americana do século passado, a Guerra Fria, a cultura do cinema, teatro, publicidade e literatura. Uma interpretação interessante do filme envolve a superação do luto dentro de uma dinâmica familiar, um tema recorrente na filmografia de Anderson.

No entanto, a obra demora a se concentrar em um elemento central, deixando o espectador se perguntando sobre a importância das várias camadas narrativas — como falei anteriormente: consegue confundir e tornar-se distante. Neste liquidificador de ideias, a narrativa entrelaça realidades de maneira que a história dentro da história nunca se torna completamente clara. Parece mais uma coletânea de curtas-metragens gravados no mesmo universo e uma narrativa complexa que não fundem-se para um longa inteiro.

A edição ajuda a colar os atos, mas não é o suficiente para não haver incômodos (parecido com o que sentimos nas obras do Nolan). O elenco excepcional salva muitas cenas, mas a falta de uma narrativa sólida deixa uma sensação de aleatoriedade. A combinação de elementos estéticos perfeitos, uma trilha sonora inteligente e boa dramaturgia não consegue dar um propósito unificado ao filme. Wes Anderson precisa usar sua estética peculiar como uma ferramenta para contar histórias mais coesas, em vez de se perder em sua forma, ou corre o risco de prejudicar sua filmografia. Asteroid City demonstra a habilidade de Anderson em misturar elementos lúdicos e políticos, transformando cenários áridos de testes nucleares em paisagens de desenhos animados, ao mesmo tempo em que oferece uma análise ponderada da sociedade e de seu povo se houver um carinho especial ao assistir e engolir bem a confusão narrativa.