Durante muito tempo, foi muito difícil conseguir adaptar grandes jogos para as telonas. Clássicos como Super Mario Bros, Street Fighter e obras recentes como Assassin’s Creed são alguns dos exemplos que mostram como os grandes estúdios de Hollywood não sabiam como trazer as grandes aventuras dos games para as telonas.
Com o passar dos anos, alguns desses estúdios abriram os olhos e perceberam que se quisessem ter um resultado positivo com essas adaptações, eles deveriam fazer o mínimo: buscar inspiração nos games que suas obras se baseiam. E foi daí que sucessos como Castlevania e Detetive Pikachu nasceram e ganharam as massas na TV e nos cinemas.
Foi então que a Paramount decidiu que era hora de apostar em Sonic para ser seu grande hit dos games nas telonas, e a jornada dessa aventura traz um mix dos erros e acertos das obras antecessoras desse gênero.
Vamos começar falando do Elefante na sala:
Quando o filme foi anunciado e teve suas primeiras imagens divulgadas, toda internet se mobilizou para expor sua frustração devido a descaracterização que o personagem sofreria visualmente (e esse poderia ser o primeiro indício da maldição dos filmes de games).
E enxergando a razão presente no clamor dos fãs, o estúdio voltou atrás e trouxe o clássico visual do ouriço azul dos games para as telonas, e essa decisão salvou o filme de não ser um desastre de bilheteria e crítica.
Contudo, por mais que tenham corrigido a questão visual, temos algumas coisas para pontuar quanto ao roteiro.
A trama do filme de 2020 traz um clichê já conhecido em adaptações do gênero: Começamos a história dentro do mundo fantástico que os fãs já conhecem como um mero fanservice, mas logo temos nosso protagonista transportado para o mundo real, com a intenção de economizar em grandes cenários digitais, e também deixar o público mais conectado com as ações do personagem em um ambiente familiar.
Mas comparação a outras adaptações que jogos que tentaram esse tipo de abordagem e falharam, Sonic: O Filme faz bom uso desse clichê, justificando o uso desse artifício para além da preguiça de construir mundos, pois essa mudança também serve para estabelecer a história do herói principal contra seu arqui-inimigo: o Dr. Robotnik vivido por Jim Carrey, que aqui entrega uma boa performance que além de divertir o público mais novo por conta de seus trejeitos cartunescos, também traz nostalgia para o público mais velho que conhece o ator por suas atuações em clássicos como Debi & Lóide, O Máskara e Ace Ventura.
O roteiro também deixa muito claro que não pretende ir a fundo em apresentar as grandes motivações do personagem de Carrey, mas ele compensa o público quando traz uma ótima dinâmica de rivalidade entre vilão e o protagonista (aqui dublado por Ben Schwartz), e mesmo que Sonic tenha sido feito em CGI, sua interação ao lado de Robotnik consegue ser crível, além de trazer um show de carisma de ambos os lados.
E se a relação com Robotnik enfatiza o ponto alto do filme, a dinâmica construída pelo protagonista ao lado do personagem vivido por James Marsden faz a média entre o positivo e o negativo.
É muito legal ver alguns momentos em que Sonic e Tom (Marsden) interagem no começo do longa e durante sua road trip para sobreviver, mas logo vemos que o roteiro busca dar muito mais importância para essa amizade e para a ingressão de outros humanos nesse núcleo do que busca enfatizar a aventura.
E no momento em que o filme decide focar na aventura, temos um festival de cenas incríveis que trazem um brilho para a história, apresentando bons momentos vemos as habilidades do protagonista sendo apresentadas enquanto ele está se divertindo ou em algum embate contra tecnologia inimiga.
Além disso, o a direção junto ao texto conseguem trazer muitos momentos de nostalgia presente nos jogos para presentear os fãs, encaixando isso na trama sem parecer forçado.
É muito gratificante imaginar as equipes de roteiristas e de efeitos visuais se reunindo para fazer algo bonito para os olhos do público.
Os efeitos visuais foram muito bem trabalhados, principalmente no curto período de tempo em que o estúdio precisou mudar o visual do protagonista às pressas. É de se esperar que na sequência do longa nós possamos ver muito mais capricho da ação e nos efeitos visuais.
E na expectativa de uma boa qualidade visual, a direção de Jeff Fowler é um ponto muito bom que merece o devido reconhecimento por seu ótimo trabalho em deixar live-action e animação muito bem feitos.
No geral, Sonic: O Filme é uma obra que abraçou com muito carinho todo o amor que os jogos construíram nos últimos 30 anos e entregou uma trama divertida para todos os públicos com um filme de games que conseguiu, aos trancos e barrancos, mostrar sua firmeza no hall de boas adaptações.