Ao combinar a rica tradição do rádio com a conveniência dos podcasts e a narrativa imersiva do teatro, os audiodramas (ou audiosséries) têm crescido como uma das formas mais populares de contar histórias na era digital.

E como grandes nomes do mercado com o Nerdcast, Alexandre Ottoni e Deive Pazzos chegam com França e o Labirinto, um projeto original do Spotify criado, produzido e dirigido pela dupla do Jovem Nerd que traz uma história de detetive misteriosa e que merece sua atenção.

Selton Mello revela curiosidades sobre 'França e o Labirinto' - POPOCA

Estrelada por Selton Mello (O Auto da Compadecida), a trama foca na vida de Nelson França, um detetive particular cego que precisa retomar a investigação de um antigo caso fechado há muito tempo. E com a ideia de imergir o ouvinte na pele do protagonista título, a produção utilizou o de áudio binaural (também conhecido como áudio 3D), um recurso onde o som localizado em cena cerca os ouvidos de quem escuta o projeto (especialmente com uso de fones).

Jovem Nerd e Spotify anunciam áudiossérie original com Selton Mello como  protagonista - NerdBunker

Mesmo sendo ouvinte de podcasts (sendo o Nerdcast meu primeiro contato), ainda não tinha parado para acompanhar a vertente das audiosséries, mas a premissa e todo conceito técnico por trás de França e o Labirinto me chamaram a atenção para o que poderia ser um excelente primeiro contato. E fico muito feliz em comentar que, de fato, a produção foi um excelente projeto.

Ao longo dos primeiros minutos do projeto, o roteiro de Leonel Caldela e Fábio Yabu e o excelente trabalho de produção sonora rapidamente transporta o ouvinte para seu universo e aos ricos personagens que o compõem. E essa excelência se mantem durante todos os 13 episódios.

E além do trabalho que o som faz em construir uma noção de mundo para que nosso subconsciente acompanhe, essa imersão também nos faz sentir na pele tudo que acontece com França, o que causa angústia graças a falta de visão de mundo do personagem — e admito que certos momentos beiram o assustador.

França e o Labirinto | Leonel Caldela e Fábio Yabu falam dos desafios do  roteiro - NerdBunker

Quero evitar entrar em detalhes sobre a trama por receio de entregar algum spoiler, mas quero falar sobre como o roteiro de Caldela e Yabu está sensacional.

O texto trabalha muito bem com os elementos do gênero thriller não apenas na condução da narrativa, mas também no trabalho de  desenvolvimento de personalidade dos personagens a cada episódios — que também é mérito da excelente direção de voz que falarei mais adiante.

A forma como o roteiro trabalha a cegueira de França para mostrar suas habilidades de detetive e para apontar os defeitos de seu passado são muito bem construídos. E os momentos em que o protagonista explica para outros personagens sobre sua condição servem como uma mensagem de incentivo para que o ouvinte vá atrás de saber mais — e esse mérito é fruto de uma excelente consultoria de acessibilidade que a produção teve com o engenheiros e software e enxadrista Lucas Radaelli.

A história também apresenta diversas pistas sendo desvendadas ao longo dos episódios, e, em alguns momentos, essas pistas e suas respostas são jogadas para o ouvinte antes mesmo que o protagonista as perceba.

Em outras mídias, um texto expositivo mal trabalhado pode gerar falhas, mas a audiossérie usa esse recurso para gerar ainda mais tensão no ouvinte — que fica na torcida para que tudo seja descoberto e solucionado o mais rápido possível.

 

E seria impossível elogiar a produção de França e o Labirinto sem mencionar a excelente direção de voz de Fernanda Baronne, que trabalhou com um time que engrandeceu ainda mais o projeto. 

As performances de Selton Mello, Maíra Góes, Jorge Lucas e Luiz Carlos Persy dão a vida para o texto e entregam toda emoção, personalidade e carisma de seus personagens. Assim como nos cenários, as atuações nos ajudam a criar imagens desses personagens em nosso imaginário, gerando uma imersão e um apego maior pela história e por suas consequências.

Admito que esse é um dos melhores trabalhos de direção de dublagem que já vi, mostrando ainda mais a força da dublagem brasileira em grandes produções.

Com excelência no roteiro, dublagem e produção sonora, França e o Labirinto entrega uma história tensa, inteligente e com qualidade suficiente para colocar muitas produções do audiovisual no chinelo. É um excelente primeiro passo para quem busca embarcar no mundo das audiosséries e abre mais espaço para que esse mercado cresça cada vez mais e com ainda mais qualidade.