Se imagine assistindo a um filme ou uma série, e durante o desenrolar da trama você de apega a um casal especifico, casal esse que sempre flerta um com o outro, são românticos, se tratam como um casal apaixonado, e isso te prende a assistir aquela historia para saber qual será o final daqueles dois.
Depois de ter assistido quase toda trama você acaba descobrindo que os produtores nunca tiveram a intenção de finalizar eles como um casal, que aquilo foi inserido na historia para ter uma audiência maior. No mínimo se sentirá enganando, com aquele sentimento de ter sido trouxa! Pois bem, acabei de descrever o que é Queetbait.
Essa técnica é muito usada em Hollywood para atrair o publico da comunidade LGBTQIA+, sem se comprometer realmente com as causas daquela comunidade.
Mas para entender melhor vamos voltar aos primórdios da indústria cinematográfica.

Era de Ouro de Hollywood e o QueerCoding
Durante a conhecida era de ouro de Hollywood, mas especificamente durante as décadas de 30 a 60, vigorou um termo de moralidade do que deveria ser evitado nos filmes para que eles não fossem censurados, esse regulamento foi chamado de Código Hays.
Nesse código existia algumas proibições como: não mostrar nudez, não mostrar relacionamentos entre pessoas negras e pessoas brancas, não fazer qualquer tipo de piada ao clero e obviamente não mostrar relacionamentos excessivos entre pessoas de mesmo sexo.
Para fugir dessa censura alguns diretores e roteiristas criam métodos para burlar alguns aspectos dessas proibições, e é aqui que nossa atenção de mantém. Começaram a ser inseridos em alguns filmes, personagem com características e trejeitos onde o publico pudesse reconhecer como alguém LGBTQIA+, mas sem confirmar nada.
Nesse ponto devemos ressaltar que esses diretores e roteiristas não estava sendo bonzinhos ou revolucionários de ir contra o sistema em apoio a minoria, muito pelo contrário! Na realidade personagens LGBTQIA+ estavam sempre sendo atrelados a coisas negativas, como humor pejorativo, ou desvios de moral e de caráter.
As pessoas LGBTQIA+ não era o publico alvo deles, só estavam ali para serem ridicularizados e despertar uma repugnação em quem assistia.
Com o passar dos tempos o Código Hays caiu em desuso oficialmente, mas alguns resquícios de suas ideias retrogradas ainda permanecem, um exemplo disso é a maioria das minorias ainda serem retratadas com estereótipos ate os dias atuais.

Mas o que tem aver QueerCoding e Queerbait?
O QueerCoding diz respeito a dar um personagem características que são associadas a comunidade LGBTQIA+, mas sem realmente confirmar que elas são, com uma declaração em códigos que só será decodificado por quem faz parte dessa comunidade. Esses códigos podem ser o modo de falar, modo de agir, modo de se vestir e se expressar.
O QueerBait, se utiliza desse Queercoding para lucrar. O termo define uma estratégia de marketing usada para se aproximar da comunidade LGBTQIA+, dando a entender que os personagens de um projeto são da comunidade ou vivem um relacionamento homoafetivo, quando, na verdade, isso não fica claro na obra.
A palavra une dois termos em inglês: “queer”, usado para se referir a minorias sexuais e de gênero nos países de lingua inglesa, e “bait”, que significa “isca” em inglês. Em resumo: joga-se a isca para “pescar” os LGBTQIA+, mas sem perder o público conservador. Para a produção, fica a aparência de progressista e não se cria “polêmicas” (reflexos do preconceito) em volta da obra. Mas a verdade é que ela faz queerbaiting.

O QueerBait não esta somente relacionado com o cinema
Millennials e fãs de Harry Potter em geral vão se lembrar de como a autora J.K. Rowling afirmou que Dumbledore, um dos maiores personagens da saga, era um homem gay depois que todos os livros já haviam sido lançados. A orientação sexual do diretor de Hogwarts nunca foi abordada nos livros. Vale lembrar que a própria escritora tem sido duramente criticada em sua vida pessoal por conta de comentários transfóbicos.
O personagem Loki, da Marvel por exemplo revelou na primeira temporada da série que o Deus da Trapaça como não-binário, o que não foi surpresa para os leitores das Hqs, mas a informação foi uma novidade no Universo Cinematográfico Marvel, pois a fluidez de gênero de Loki praticamente não foi abordada na tela.
Fora dos filmes e séries, artistas também se utilizam do queerbaiting para capitalizar em cima da suspeita de que, talvez, eles sejam abertos a se envolver em relacionamentos não heteronormativos. A Billie Eilish foi alvo de críticas ao compartilhar um vídeo dançando em meio a um grupo de mulheres, durante as gravações do clipe de “Lost Cause“. Na legenda, ela escreveu: “I Love Girls”, “eu amo meninas”, em tradução livre.
Teve gente achando que Billie estava se assumindo como parte da comunidade LGBTQIA+, mas a situação pareceu ser mais uma de queerbaiting.

E qual o problema?
Não é difícil perceber a problemática por trás desse mecanismo. Primeiro porque se usa de um tópico extremamente sensível e de necessária reflexão por parte da sociedade com o fim de simplesmente capitalizar devido ao poder aquisitivo da comunidade. Não existe uma real intenção de que se reflita sobre a vida de pessoas LGBTQIA+, suas dificuldades, seus anseios e suas lutas. A única intenção é gerar buzz e lucrar com isso, ou seja capitalizar o PinkMoney.
Em segundo lugar, a estratégia de queerbating deposita naqueles que se identificam de verdade com a causa LGBTQIA+ um sentimento de frustração. As personagens que seriam lésbicas em um filme nunca veem seu amor concretizado. O personagem de gênero fluido em uma série nunca tem a sua sexualidade como tema central. Tudo fica no campo das ideias, da imaginação e poucos se arriscam a concretizar o que acontece a vida real.
Negar o homoerotismo que é utilizado em series como Sherlock, Supergirl, Legacies, Hannibal e outras, dizendo que é algo sem sentido e criado pelos fãs, é um desrespeito a uma comunidade que só há alguns anos passou a ser representada de maneira efetiva na mídia.
A técnica do queerbaiting reforça a discriminação ainda existente dentro da indústria do entretenimento, invisibilizando a comunidade LGBTQ, principalmente os bissexuais, que já não têm muito espaço dentro do próprio movimento. Na vontade de parecerem inclusivas, as produções acabam se tornando prejudiciais, tratando como um tabu qualquer forma de relacionamento que fuja da cis-heteronormatividade.